Vou-me embora pra Sorocaba
Lá sou filhinho de papai
Lá tenho o salário que quero
Na empresa que escolherei
Vou-me embora pra Sorocaba
Vou-me embora pra Sorocaba
Aqui não consigo ser careta
Aqui a existência é uma doidura
De tal modo estupefaciente
Que já beijei metade da metade
Das mulheres da cidade
E ainda não foi suficiente
Pra encontrar a tal figura
Lá casarei com uma modelo
Bonita e inteligente
E simples e leve de pensamento
Como eram minhas certezas da infância
E teremos filhos, cães, carros na garagem
Casa própria com jardim, e dinheiro
Pra torrar em brinquedos e viagens
Vou-me embora pra Sorocaba
E quando eu estiver mais triste
Morrendo de saudades de Recife
Da vida que tive, dos beijos
E das baladas que deixei pra trás
- Lá serei um homem ocupado -
Vou me deter num suspiro prolongado
E voltar ao trabalho, pra esquecer
(Porque já terei largado o cigarro)
Vou-me embora pra Sorocaba.
Condensar é a palavra
Irreverência é a palavra
Hélices de medir tempo
estáticas
Mamilos de plástico roxo
Imatéria de fazer com as mãos
Poesia
Tuas sobrancelhas por sobre a cidade
e além dentro de minha retina
Depuração de sangue podre
Pássaro verde caindo do pé
de pássaros
Caracóis, camaleões e insetos
Pista e paisagem
Apesar da pastilha
A chuva que desaba sobre nós
Com exclusiva atração molecular
Trovões mecânicos e impercepções
O Sol nascente